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2020

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A divisão do tempo é uma criação humana milenar. As diferentes culturas elaboraram seus calendários tendo como referência os ciclos da natureza, seus costumes e especialmente suas crenças. A própria divisão da História é produto dos movimentos sociais e de fatos significativos para a humanidade.

Quando criança, assisti emocionada à chegada do homem à lua e por muito tempo entendi que a História ali deveria sofrer um novo recorte, inaugurando a era espacial. Tempos depois reconheci a evolução comunicacional como motivo para uma nova classificação. Então chegou 11 de março de 2020 e o anúncio da Organização Mundial da Saúde de que a rápida disseminação geográfica de um novo vírus, com níveis alarmantes de contaminação, instalava no mundo uma pandemia.

A humanidade foi então reapresentada para a peste, companheira da fome e da guerra, trilogia que abalou o velho mundo no século 14. Ela se apresentou não mais travestida de atos do demônio ou das superstições, mas desnudada pela ciência e propagada de forma veloz pelos meios de comunicação e de transporte.

Passamos a acompanhar estarrecidos as notícias vindas do antigo continente. Assistimos as lágrimas da jornalista trazendo as primeiras notícias da Itália e o transporte dos seus mortos nos caminhões militares. De lá vieram os primeiros casos para o Brasil, provocando as covas coletivas de Manaus, os tristes números de São Paulo, a contaminação em massa dos povos indígenas e a crescente propagação da doença no território brasileiro.

A partir daquele dia, vivenciamos a mudança de nossas rotinas e de nossos planos. A insegurança diária passou a ser nossa fiel companheira. Aquele tempo organizado pelo antigos perdeu seu sentido frente à sensação de que os dias transcorrem em velocidade máxima e a impressão de que nossa vida está se esvaindo como uma areia descendo na ampulheta.

Nossas crenças, valores e costumes entraram em profunda crise. Saímos de nossa zona de conforto e passamos a vivenciar o medo. Corremos aos supermercados, estocamos alimentos, materiais de limpeza e higiene, e exercitamos medidas paliativas de solidariedade. Passados dois ou três meses, defrontados com a realidade diariamente revelada pelos meios de comunicação, ingressamos num período de aprendizagem, onde a reflexão se faz necessária e o reconhecimento da corresponsabilidade na busca das soluções começa a acontecer.

Agora é o momento de colocarmos em práticas as lições aprendidas. O desconhecido está superado e devemos despertar para a nova vida que se apresenta, onde o cuidado com o outro e com a natureza devem ser exercidos, pois disso depende a nossa própria sobrevivência.

É difícil qualificar o ano de 2020. Sequer consegui complementar o título deste texto com um adjetivo. Acredito que o mero indicativo numérico bastará para ele ser identificado no futuro.

Uma coisa, porém, tenho certeza. Esse ano, marcado pelo espanto, pelas dores e pelo medo, inaugura um novo tempo para a humanidade: a era da aprendizagem.

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